Esofagopatia térmica: lesões por ingestão de líquidos muito quentes

Esofagopatia térmica refere-se às lesões da mucosa esofágica causadas por calor excessivo — tipicamente pela ingestão de líquidos muito quentes (chá, coffee-to-go, sopas) ou alimentos aquecidos. Essas queimaduras variam desde eritema e edema da mucosa até ulcerações e necrose em exposições mais intensas, e podem resultar em dor, dificuldade para engolir e, a médio prazo, formação de cicatriz com estenose esofágica.
Como as lesões acontecem
O esôfago é sensível ao calor: contato prolongado com líquidos acima da capacidade tolerada pela mucosa provoca lesão direta das células superficiais e das camadas subjacentes. Fatores que aumentam o risco de dano incluem ingestão repetida de líquidos quentes, ingestão em grande volume que mantém calor em contato com a mucosa, e condições que reduzem reflexos protetores (idade avançada, consumo de álcool ou uso de sedativos).
Quadro clínico — sinais e sintomas
Os sintomas costumam surgir imediatamente ou nas primeiras horas e incluem:
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dor retroesternal ou queimação intensa após consumo do líquido quente;
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odinofagia (dor ao engolir) e disfagia (sensação de dificuldade ao engolir);
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sialorreia (aumento da salivação) e sensação de garganta inflamada;
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tosse persistente e, se houver comprometimento laríngeo, rouquidão.
Complicações tardias podem envolver cicatrização com estenose (estreitamento) do esôfago, risco de perfuração em lesões profundas e maior suscetibilidade a infecções secundárias.
Investigação e diagnóstico
A avaliação deve começar com história detalhada (o que foi ingerido, temperatura estimada, volume, tempo desde o evento) e exame físico. Exames que esclarecem extensão da lesão:
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Endoscopia digestiva alta (EGD): é o exame de escolha para avaliar extensão e gravidade das queimaduras, permitindo classificação das lesões (do eritema superficial à ulceração/necrose) e biópsia quando necessário.
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Imagem (TC) só é indicada quando há suspeita de perfuração ou complicação mediastinal.
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Laboratórios: não há um marcador específico, mas podem ser úteis para avaliar sinais de inflamação ou complicações sistêmicas.
Tratamento imediato e manejo clínico
O manejo varia conforme gravidade:
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Casos leves: ingestão de líquidos frios após o evento e analgésicos; dieta progressiva com líquidos frios e alimentos macios; acompanhamento clínico.
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Casos moderados a graves: internação para analgesia venosa, hidratação e jejum inicial seguido de reintrodução cuidadosa de alimentação; uso de inibidores de bomba de prótons para reduzir irritação ácida e proteção da mucosa; antibióticos apenas se houver infecção documentada; avaliação fonoaudiológica se houver risco de comprometimento laríngeo.
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Lesões profundas: acompanhamento endoscópico seriado; em estenoses evolutivas pode ser necessária dilatação endoscópica sequencial e, raramente, intervenção cirúrgica. Em suspeita de perfuração, conduta cirúrgica urgente é essencial.
Prevenção — medidas simples e eficazes
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sempre testar a temperatura de bebidas e sopas antes de ingerir; deixe esfriar alguns minutos;
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evite transferir líquidos ferventes diretamente para copos/recipientes que conservem calor extremo;
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atenção com crianças e idosos — supervisão durante refeições quentes;
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cuidado ao dirigir/andar com recipientes de café; prefira tampas seguras e provar a temperatura antes de consumir.
Quando buscar atendimento urgente
Procure atendimento imediato se, após ingestão de líquido muito quente, houver dor intensa ao engolir, saliva excessiva, vômitos persistentes, sangue nas fezes ou sinais de dificuldade respiratória. Se os sintomas persistirem mais de 24–48 horas ou houver piora, procure avaliação especializada (gastroenterologista).
Clínica Pronto Gastro São Paulo
Responsável Técnico: Dr. José Luiz Capalbo – CRM: 71430-SP
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