Anemia inexplicada: como o estômago pode estar envolvido

Anemia detectada sem causa óbvia — sobretudo anemia por deficiência de ferro ou de vitamina B12 — pode ser o primeiro sinal de problemas no trato digestivo superior. Em adultos, perda de sangue oculta, má-absorção ou perturbação da produção de fatores essenciais para absorção (como o fator intrínseco) frequentemente têm origem no estômago ou no esôfago proximal. Ignorar a anemia inexplicada pode atrasar o diagnóstico de condições tratáveis, algumas potencialmente graves.
Principais mecanismos gástricos que levam à anemia
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Sangramento oculto do trato digestivo superior: úlceras pépticas, gastrite erosiva ou lesões tumorais podem causar perda crônica e lenta de ferro, levando a anemia ferropriva sem sinais evidentes de sangramento.
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Infecção por Helicobacter pylori: essa bactéria pode estar associada à redução das reservas de ferro por combinação de inflamação, maior perda e competição por ferro, e em alguns casos a erradicação melhora o status do ferro.
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Gastrite atrófica e anemia perniciosa: na gastrite autoimune ou atrófica, há perda das células parietais que produzem ácido e fator intrínseco — sem fator intrínseco, a absorção de vitamina B12 fica comprometida, causando anemia megaloblástica.
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Cirurgias gástricas e alterações anatômicas: ressecções ou manobras que reduzem a superfície de contato para absorção podem provocar má-absorção de ferro e vitaminas.
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Disfunção da acidez gástrica: baixa acidez (hipocloridria) prejudica a solubilização e absorção do ferro não heme dos alimentos.
Sinais de alerta que sugerem origem digestiva
Procure investigação quando houver: perda de peso inexplicada, dor abdominal superior persistente, sinais de sangramento (fezes escuras ou pálidas, hematêmese), disfagia, sintomas de refluxo associados a emagrecimento ou se a anemia for inexplicada após terapêuticas comuns com ferro. Em pacientes >50 anos, anemia ferropriva justifica investigação endoscópica mais urgente.
Como é feita a avaliação médica
A investigação começa com hemograma completo, índices de ferro (ferritina, ferro sérico, capacidade de ligação), teste de vitamina B12 e folato. Testes adicionais incluem pesquisa de sangue oculto nas fezes e testes para H. pylori (sorologia, antígeno fecal ou teste respiratório). Quando indicado, prossegue-se para endoscopia digestiva alta (EGD) para visualizar e biopsiar mucosa gástrica — essencial para detectar úlceras, gastrite atrófica, H. pylori ou lesões neoplásicas. Em muitos casos também se avalia cólon (colonoscopia) para excluir perdas no trato inferior.
Tratamento: agir sobre a causa e repor o déficit
O manejo depende da causa identificada:
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Sangramento / lesão gástrica: tratar a úlcera, remover fonte de sangramento, ou tratar tumor conforme protocolo.
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H. pylori: erradicação adequada pode reverter ou melhorar anemia associada.
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Gastrite atrófica / anemia perniciosa: reposição de vitamina B12 (frequentemente por via parenteral) e acompanhamento de longo prazo; investigação para outras deficiências.
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Reposição de ferro: via oral quando tolerada; via endovenosa em casos refratários, com má-absorção ou necessidade de reposição rápida.
Além disso, orientação nutricional e acompanhamento hematológico são essenciais até normalização.
O que você pode fazer agora
Se recebeu diagnóstico de anemia sem causa aparente: anote sintomas digestivos (dor, refluxo, fezes alteradas, perda de peso), medicamentos em uso (AINEs, anticoagulantes, inibidores da bomba de prótons) e histórico de cirurgia abdominal. Leve essas informações ao seu médico — isso agiliza a investigação e aumenta as chances de diagnóstico precoce.
Clínica Pronto Gastro São Paulo
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